Mariângela gostava de conversar

Marcus Vinicius Batista Quando ela me chamou pela primeira vez, eu achei que não era comigo. Começava a subir a rampa do supermercado, que atravessava cinco vezes por semana, no caminho mais curto para casa. Era hora do almoço, tinha deixado meu filho na escola e estava com pressa, repassando compromissos na cabeça. Mariângela foi coerente. Persistente como ela mesma. Insistiu. Falou mais alto. Repetiu meu nome. Logo, passou a balançar o braço direito e gritar: “Menino! Menino! Menino!” Parei, a reconheci e esperei que ela descesse a rampa com quatro, cinco sacolas de supermercado. Foi no final do ano passado, provavelmente novembro. Foi a última vez que nos encontramos. Mariângela Duarte era assim. Objetiva, determinada, conversadeira, tinha que dar seu recado. Logo que nos cumprimentamos, ela me surpreendeu. Perguntou do meu último livro, “O Lobo, o Urso e a Cura”. Não imaginava que soubesse dele. Não só sabia, como conhecia detalhes. Queria ...