As perdas

Marcus Vinicius Batista Entrei no café do Memorial Necrópole Ecumênica e dei de cara com um amigo, o Eduardo Brandão. Percebemos que estávamos lá por causa da mesma pessoa. Durante uns 20 minutos, colocamos a conversa em dia sobre futebol, trabalho, família e como levamos a quarentena. No final da conversa, Brandão me disse: “Precisamos parar de nos encontrar em velórios. É a segunda vez nesta pandemia.” As duas frases ficaram comigo ao longo da semana. Viraram perguntas. Por que estamos tão anestesiados que não dimensionamos nossas perdas a longo prazo? Por que cedemos ao prosseguimento da vida – que deve acontecer -, flertando com o piloto automático, em vez de nos recusarmos a estender a mão para a produtividade (a correria) sem intervalos? A pandemia não levou meus dois amigos, Henrique e Márcio, de forma direta. Eles não morreram de Covid-19, mas isso me soa secundário numa fase da história marcada por perdas. Vivemos um luto contínuo, não somente por...