Aprender a morrer (Crônicas de uma epidemia # 40)

Marcus Vinicius Batista Eu morri há duas semanas. Não foi de morte morrida nem de morte matada. Também não houve velório, enterro, chororô ou comemoração. Apenas eu e ele sabíamos que, naquela noite, eu morreria. Ele sabia. Eu descobriria. Ele não me disse nem rascunhou previsão. Não se rascunha profecia quando se sabe o óbvio. Se o procurei, eu deveria saber que morreria. O médico da mata se esconde num corpo até certo ponto jovem, esbelto, em harmonia com o conhecimento e com o papel que exerce. Mas é um corpo pesado, preparado para carregar o saber ancestral que vai propiciar ao outro (eu). Para o médico, ser o que é significa respeitar quem o ensinou, compreender quem aprenderia, conduzir quem precisava morrer. Ele me encontrou no pátio de mínima luz. Depois eu percebi: para alcançar a luminosidade, só a escuridão como sala de aula, de cheiros verdadeiros, onde você não tem nome, passado, histórico, status, conta bancária, cargo ou confortos de c...